18 junho, 2008

O Mal do Século

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar:
"Digam o que disserem, o mal do século é a solidão".
Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.
Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido facilmente, alguém duvída?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.
Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!" (dessa eu sou vítima rs), "Eu sou pra casar!" até a desesperança da "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.
Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo uma solteirona infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí?
Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse à oportunidade de um sorriso a dois.
Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que seu problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".

ARNALDO JABOR (com adaptações, sempre)

16 junho, 2008

Autores que falam por mim - PARTE 2

Eu que jamais me habituarei a mim, gostaria que o mundo não me escandalizasse.

Você de repente não estranha de ser você?

Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

É que sou um pouco antes. E só isso. Juro por Deus. E sou um pouco depois também.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.

O que eu sinto, eu não ajo. O que ajo, não penso. O que penso, não sinto. Do que sei, sou ignorante. Do que sinto, não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.

A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais...


E nesse silêncio profundo se esconde minha imensa vontade de gritar.

É porque sou muito nova ainda e sempre que me tocam ou não me tocam, sinto.

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.

Eu disse a uma amiga :
- A vida sempre superexigiu de mim.
Ela Disse:
-Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.

O que obviamente não presta sempre me interessou muito.

E então aconteceu: do fundo de meu coração, eu queria aquela rosa pra mim. Eu queria, ai como eu queria. E não havia jeito de obtê-la. No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanto perfume.

O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar, duram uma eternidade.

Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma.

Ás vezes eu não sei se quero parar porque estou cansada ou porque quero desistir.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: Quer-se absorve a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.

E SE ME ACHAR ESQUISITA, RESPEITE TAMBÉM. ATÉ EU FUI OBRIGADA A ME RESPEITAR.



CLARICE LISPECTOR

Autores que falam por mim - PARTE 1

Não me venha com essa história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha. Veja só que coisa mais individualista, elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.

As pessoas suportam tudo, as pessoas, às vezes, procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo.

Só eu sei que cheguei à humildade máxima que um ser humano pode atingir: confessar a outro ser humano que precisa dele para existir.

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não quis pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.

Porque não suportava mais todas aquelas coisas por dentro e ainda por cima o quase-amor e a confusão e o medo puro.

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também, mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

Trata-se de uma decepção diferente: não penso obsessivamente, não tenho vontade nenhuma de ligar nem de escrever cartas, não tenho ódio nem vontade de chorar. Em compensação também não tenho vontade de mais nada.

Não adianta,não sei explicar. As palavras traem o que a gente sente.

Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.

Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro.
Não temos culpa. Tentei. Tentamos.

Só queria ser feliz. Gorda, burra, alienada e completamente feliz.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.

Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo...

Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado.

Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo.



CAIO FERNANDO ABREU

04 junho, 2008

Não abro mão


Estralar os dedos. Café bem quente a qualquer hora do dia. Banho fervendo nesses dias frios que estão fazendo. Tomar sol na praia vendo um pai e um filho brincando de bola. Tomar sol na laje de casa com as melhores amigas e uma mangueira. Uma tarde de "lifting" com amigas, com direito a mão-pé-bigode/sobrancelha-massagem-hidratação-esfoliação e pegar balada à noite. Uma noite de éco com elas. Um programa de gordinha tensa em sábado (À NOITE, ESSE DETALHE CONTA MUITO) depressivo (brigadeiro, pipoca, coca, "De Repente é Amor"). Almoço familiar após as missas das 11h no domingo. Meu roupão preto, livro, chá, incenso e cama. Comprar uma peça de roupa que queria há tempos. Escovar os dentes e passar a língua depois. Água gelada de madrugada. Caipiroska (uma atrás da outra). Foundi (queijo/chocolate) com vinho e alguém pra acompanhar. Dormir ouvindo música. Acordar aos sábados sozinha em casa e assstir o DVD do JJ tomando café. Dançar. Aula de literatura (e a professora, junto). Enrolar e dar nó no cabelo. Ver uma pessoa muito importante/distante e o coração acelerar. Ver uma pessoa especial te olhando sem que ela te veja olhando. Assistir FRIENDS com minha irmã. Mesa de madeira dos Molianis. Deitar todas as tardes com mamãe pra ver a novelinha. Cappucino do meu pai. Viajar. Experimentar uma calça que não servia há tempos e ver que a mesma está 'folgadinha'. Rir até chorar. Chorar até rir. Se apaixonar e parecer uma idiota. Um bom beijo. Abraço longo. Cóceguinhas durante a aula. Ter alguém mexendo em meus cabelos. Escrever. Um bom filme. Fazer festa surpresa. Ver meu time ser campeão ou ao menos ganhar um jogo ou até fazer um gol e vibrar. Copa do mundo. Uma tarde com as três gerações (vovó, mamãe&tia, eu&minha irmã). Dormir em aulas de física. Ouvir uma música que lembre um momento especial. Brigar e fazer as pazes. Reencontrar um velho amigo. Teatro. Fotos antigas. Vontade de fazer xixi (juro, eu adoro isso). Shows do SESC. Creme hidratante. Chapinha e secador (HAHAHA). Nota boa inesperada. Tirar casquinha de machucado. Tirar as meias durante a noite. Brincar de quem consegue ficar sem rir. Falar na língua do P. Irritar os outros. Dormir de conchinha. Ter alguém que me ame. Amar.

03 junho, 2008

Últimas palavras


Eu vou escrever aqui, porque daí eu resumo e fica mais fácil (na verdade eu vou postar aqui pra guardar também!)

Eu nem sei se eu deveria tá escrevendo e tudo mais e sei que não é o momento certo, ou talvez, esse seja MEIO TARDE. A verdade é que eu não podia falar tudo isso ANTES, sendo que eu mesma não sabia que isso um dia ia acontecer e que um dia o sentimento que podia estar escondido em mim viesse à tona. De uma única coisa você pode ter certeza: eu sabia que eu podia quebrar a cara e que me arrependeria de tudo o que passou. Mas passou, e você, mais do que eu, sabe o quanto tudo aquilo era ridículo. Eu posso me arrepender, mas não posso desfazer tudo e voltar no tempo.. tanto porque eu não sabia o quão importante você era pra mim. São 6 anos (SEIS ANOS!!) e muita coisa aconteceu, e são coisas que hoje eu vou lembrando e juntando todas as peças e percebendo o tão burra que eu fui de não enxergar algo que tava CLARO, e que eu fazia questão de não perceber, por tolisse, por CRIANCISSE e até por CÚ DOCISSE (que tanto você dizia que eu fazia, e era verdade!). Eu sei que parecia hipocrisia minha ter chegado DO NADA, achando que estava tudo bem e falado que eu estava disposta a qualquer coisa que se referisse a gente. Também pode parecer muito egoismo o fato de eu achar que as pessoas são minhas e que o sentimento que você tinha por mim ERA MEU e que nunca ia acabar.. MAS NÃO FOI NADA DISSO QUE ACONTECEU. Eu sabia de tudo o que eu ia enfrentar, sabia que eu era a maior culpada e sabia que as pessoas não gostam das outras pra sempre, ainda mais depois de tudo que a gente passou! Mas você me conhecendo, sabe que eu posso ser cabeça dura, ser muito criança as vezes, ter ocilações MESMO, e quando coloco algo na cabeça não tiro. Só que, apesar de ser difícil de você acreditar, eu NÃO ESTOU TE ENQUADRANDO em nenhuma ocilação minha, em nenhuma FASE, e nada parecido. Eu to tentando é que você volte a fazer parte da minha vida, e TUDO QUE NELA SE ENQUADRA. (seja lá o qto exagerada que essa frase possa ter sido hahahaha)! E tem sido isso que você não tá entendendo..
Eu entendo também o que pode estar se passando com você, o qto é difícil acreditar em tudo que eu to falando e NÃO TER MEDO de quebrar a cara de novo comigo, ainda mais depois de ter conhecido pessoas maravilhosas que te completam bem mais do que eu completei, ou do que eu quis completar.. por própria escolha. E pedir pra fazer isso hoje eu sei que pode ser BEM TARDE. Mas o que eu acredito é que uma coisa assim, de tanto tempo, tanta experiência não se acaba MESMO DE UMA HORA PRA OUTRA (e eu sou prova disso qdo TENTEI tirar você da minha vida, achando que não fazia a menor importância) ainda mais GOSTANDO TANTO, da maneira que você dizia gostar.
Eu não to pedindo um sentimento forçado, que você volte a gostar de mim como antes, nem que apague tudo o que passou. O que eu quero mesmo é que você não se engane como eu, não finja que as coisas não acontecem igual eu fiz e ao MENOS BRINQUE COM AS PESSOAS. Mesmo eu não tendo moral nenhuma pra pedir isso, eu te conheço suficientemente bem pra saber que você não faria uma coisas dessas. Mas não é bem isso que vem acontecendo, né? Quando eu falo pra você tentar não inverter o jogo, eu não falo brincando, porque eu sei o qto isso deve ser bom pra você (e seria bom pra qualquer um, é normal..).
Só pra acabar (porque eu já disse muito né, eu tenho mania de falar e escrever, você sabe..) eu só queria dizer que seja lá o que aconteça você sempre foi e vai ser importante pra mim, que sempre vai ficar marcado, que eu gosto e muito de você.. e queria mesmo que nada tivesse sido como foi!
Foi a melhor maneira que eu encontrei pra poder falar UM POUCO de tudo que eu to passando e pra também pedir desculpas. Só queria que você não alimentasse algo em mim que você sabe QUE NÃO EXISTE MAIS EM VOCÊ, muito menos que faça de mim um brinquedinho seu, pra que as coisas possam ser boas entre a gente depois de tudo.
Eu não vou mandar você sumir pra que eu possa esquecer de tudo isso não viu? hahahaha, eu amadureci bastante com tudo isso e aprendi muito também, e não cometeria os mesmos erros, acredite!
Agora chega né? Imagine o quanto foi duro pra eu escrever tudo isso, mas eu consegui! (E to tentando sim, deixar de pensar no meu próprio umbigo e ser mais carinhosa com as pessoas que me querem bem, e isso eu aprendi com você!)

Não precisa responder, mas também não é pra aceitar né?
Guarda nos seus documentos depois de ler, TINHA tanta coisa minha lá! (tá, aqui tem milhões sua também.. perdi a conta de quantas fotos de carro tenho nos meus documentos!)




*eu postei inteirinho pra não perder nenhum pedaço, obrigada por me passar.
(Duvidou, né? Está aí!)

Encontro

- Demorei muito?
- Ah, nem tanto..
- É que está chovendo como nunca lá fora.
- Desde sábado.
- Uma tempestade.
- E ELE?
- Mandou um bilhete.
- SÓ?
- SÓ.
- Bom.
- Mas disse que sente saudades..
- Todos sentimos.
- VOCÊ SEMPRE PARECE NÃO SENTIR.
- É meu jeito, só isso.
- É, jeito esquisito, isso sim!
- Tá, pode ser.
- Gosta, Isa?
- Bonitinho até..
- Comprei no caminho. (TCHHHHHHIM)
- Hm.. viu, é melhor você beber algma coisa.
- Depois.. eu achei a cor tão diferente!
- Agrrrr, cor é cor! Vermelho é vermelho, azul é azul!
- Mas essa É DIFERENTE! (TCHHHHHHIM)
- Não disse? Você vai ficar resfriado Felipe!
- Vou nada, eu tô é feliz!
- Haha, e o que isso tem a ver com o resfriado?
- GENTE FELIZ NÃO ADOECE, SABIA?!
- Quanta bobagem.
- Você já arrumou tudo, podemos ir logo?
- Já. Por que você se atrasou?
- DROGA! VOCÊ É NERVOSA MENINA, já disse que não foi culpa minha!
- Tá, mas eu não disse isso, só tô perguntando o porquê. É difícil responder?
- PRONTO, ME CHATEANDO DESSE JEITO EU FICO RESFRIADO!
- Desculpe, vá!
- É pra você isso, toma.
- Obrigada.
- Grossa. As horas tão passando tão depressa, não é?
- Depende do lugar onde estamos, aqui nesse inferno não passa depressa coisa nenhuma.
- Nossa, como você é estranha. Eu só quis dizer que...
- Lembrou de trazer o que eu pedi?
- Como sempre, eu não tenho vez de falar!
- Lembrou ou não?
- Lembrei claro, senão você me mataria.
- Ótimo, me dê então.
- Tá certo?
- Tá né, pelo menos isso.
- Não pára de chover!!
- E O BILHETE, HEIN??
- Que bilhete?
- NÃO ENROLA, O BILHETE QUE O DÚ MANDOU.
- Puxa é mesmo, toma.

(...)
- Pare de chorar, Isa. Você já sabia que não estaria escrito coisa boa.
- Você tem um cigarro?
- Você disse que ia parar de fumar, menina.
- Tentei tudo bem. ME DÊ LOGO UM!
- Agggggggr.. tem café por aqui?
- Você sabe que tem, pega lá. E me trás uma xícara. Tá com frio?
- Um pouco.. acho que preciso de umas roupas secas.
- Melhor!
- Eu volto depois.
- Eu sei.
- Sabe? Desculpa pelo atraso.
- Sei, lógico. Não foi culpa sua o atraso Fê, não se preocupe.
- Eu sei também.

02 junho, 2008

Agora em silêncio

Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, pára de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro.

Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim... Mesmo que ele não existisse mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.

No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote, é a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia.

Agora em silêncio, tentando ensinar dragões a nadar.


(um dos textos mais lindos que eu já li e que mais se completa pro momento, apesar de não ser de minha autoria.)