29 novembro, 2007

Grande próf!




"Obrigado por você existir em minha vida". A frase foi solta, sem muito enrola enrola, sem muito pensar... e ela não ficaria chocada se fosse dita pelo seu pai, pela sua mãe ou até por uma amiga. Mas também não havia sido dita por aquele menino que estava no pé dela há meses. Professor de gramática, antigo professor de literatura, que agora abandonara a turma. Aquela turma. Turma trabalhenta, turma bagunceira, turma de notas altas e de muitas notas ruins, turma animada, turma problema? Turma de amigos. E amigos dos professores. Foram dois anos com aquele professor, no começo ele não havia se adaptado muito bem, estava naquele esquema de ensinar e fazer aprender e só. A classe era nova para ele, mas tinha formação velha, muitos se conheciam há mais de dez anos. João teve de se acostumar com a tal turma nova, e definitivamente entrar na dança. Aquele esquema rotineiro de professor, de ensino tinha que ser tirado de questão e para aquela galera a forma de lidar ia ser diferente. Era preciso mais do que livros e apostilas, era preciso mais do que um bom professor com bom conteúdo em cima do palquinho, era preciso mais do que lousa cheia. O necessário era o interlaço entre professor e aluno e mais do que isso, era necessário que as palavras "professor" e "aluno" fossem retiradas do seu vocabulário.


Apelidos carinhosos foram criados, histórias de vida eram compartilhadas, piadas, risadas e resultado disso tudo? Todos aprovados, sempre. Apesar de uma nota baixa ou outra, João sempre dava um jeito de ajudar seus alunos-amigos. É claro que nem tudo sempre foi mil maravilhas... teve aqueles dias de briga, de stresse, de conteúdo atrasado por causa de tanta brincadeira, e até de aluno colocado para fora. Mas nada daquilo foi lembrado em seu ultimo dia na classe da sua melhor turma, como ele mesmo tinha dito.


Enquanto João dava seu discurso final e pedia desculpa por qualquer desentendimento e se lamentava por ter que deixar de dar aula, os olhos da menina enxiam - se de lágrimas. Ela estava sentindo a mesma dor de todos seus amigos que estavam dando adeus os melhor professor que já tiveram, mas havia algo a mais. Naquele momento veio à sua cabeça o melhor que o professor tinha feito em sua vida. Lembrou - se de quando foi pedir para mudar de sala, pois não queria mais ter que ouvir e nem olhar na cara de algumas meninas. Briguinhas de adolescente. João não havia deixado ela fazer a mudança de sala e nem se quer explicou o motivo. (Ele sempre não foi legal com ela?)


Ao final do discurso, ela foi até sua mesa, onde João fazia os reajustes finais nas notas dos seus amigos-alunos e então disse: -Obrigada, foi a melhor coisa que você já fez pra mim ou por mim! Ela ao menos tinha falado o que era, ao menos tinha citado a passagem que havia pedido pra mudar de sala, mas nada disso era necessário, João conhecia bem qualquer um dos seus alunos, leventou a cabeça em direção à ela e disse: -Agora está tudo bem né? Eu sabia que tudo aquilo era briga desnecessária, não adiantava você fugir disso. Ia ter que encarar, ia ter que amadurecer e ao lado delas.


Naquele momento, a menina pôs - se a chorar mais, abraçou João e repetiu novamente o "obrigada" sem dizer mais nada. Só ela sabia o quanto o professor tinha sido bom em sua vida, só ela sabia o quanto suas amigas tinham feito falta, só ela sabia o quanto a amizade tinha fortalecido depois da briga e só ela sabia o quanto ela mesmo havia amadurecido em função disso.


Ao mesmo tempo, enquanto João abraçava a menina, sentiu um aperto no peito também. Só ele sabia o quanto aqueles alunos lhe fariam falta, só ele sabia o quanto seu espírito de criança havia retornado nele e só ele sabia o quanto isso tinha sido bom. Só ele sabia o quanto ele aprendera com esses alunos, e quanto eles faziam bem em sua vida e o quanto ele sentiria falta daquela classe, enxugou os olhos da menina dizendo: "Obrigado por você existir em minha vida!".


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